curadoria e texto da mostra individual do artista Dan De Carvalho, Significância, realizada em setembro/2023, em Amsterdã.
Pensar o existir ligado a um tempo-espaço ao qual pertencemos é guia constituinte do próprio Pensamento humano. O ser humano tem desejo de inscrição, e de entendimento.
É intrínseca nossa necessidade de traduzir nossas explorações e elaborações de mundo de forma significativa, em linguagem, para que possamos expressá-las e transmiti-las; é também trabalho maior da nossa existência (da nossa, que partilhamos da cartilha eurocêntrica que postula que viver é uma linearidade progressiva de início-meio-fim) cravar um lugar que nos identifique e continue. 
O gesto de criar condensa esses dois desejos. 

Mas o que acontece quando nos vemos deslocados desse tempo-espaço que nos constitui?
Se "em tudo o que fazemos, expressamos o que somos, o que nos pulsiona, o que nos forma, o que nos torna agregados a um grupo, conjunto, comunidade, cultura e sociedade", como ensina a grande pensadora brasileira Leda Maria Martins, o que pode a elaboração poética frente aos não-lugares que, por tempos, eventos de transição impõe ao indivíduo?
Em SIGNIFICÂNCIA, o artista visual brasileiro Dan de Carvalho ensaia essas premissas. 
Partindo do deslocamento, de São Paulo a Amsterdã (e do todo que isso implica), o artista se debruça nesse nosso mecanismo organizador mais primordial, a linguagem, para dar conta de (se) pensar num novo conjunto. Num jogo que usa a operação tradutora como trânsito criativo pr'além da própria linguagem, como acesso e princípio inscritor de novos lugares - um reboot em palimpsesto que ao mesmo tempo abre a novas possibilidades significativas (e convida o espectador a propô-las) e finca sua própria origem, ao manter palavras em seu vernáculo.

Criar, nessa lógica, talvez seja, em última instância, nossa busca de permanência através da constante ressignificação. Um jeito de lidar com a nossa finitude através da tradição comunicativa que preconiza que, na trama da existência, é o outro que nos completa.
To contemplate existence linked to a time-space to which we belong is a fundamental guiding principle of human thought itself. The human being has a desire for inscription and understanding. Our inherent need to translate our explorations and elaborations of the world into meaningful language, so that we can express and convey them, is also the greater work of our existence to carve out a place that identifies us and endures (ours, who share the Eurocentric notion that life is a progressive linearity from beginning to an end).

The act of creation encapsulates these two desires.

But what happens when we find ourselves displaced from this time-space that constitutes us? If, as the great Brazilian thinker Leda Maria Martins teaches, 'in everything we do, we express what we are, what drives us, what shapes us, what makes us part of a group, a set, a community, culture, and society,' what can poetic elaboration do in face of non-places that transition events impose on the individual?

In SIGNIFICÂNCIA, Brazilian visual artist Dan de Carvalho explores these premises. Starting from displacement, from Sao Paulo to Amsterdam (and all that it entails), the artist delves into our most primal organizational mechanism, language, to grapple with (himself) thinking of a new ensemble. In a game that uses the translating operation as a creative passage beyond language itself, as access and inscribing principle of new places—a reboot in palimpsest that simultaneously opens up new meaningful possibilities (and invites the viewer to propose them) and anchors its own origin by maintaining words in their vernacular.

Creating, in this logic, may ultimately be our search for permanence through constant redefinition. A way to deal with our finiteness through the communicative tradition that postulates that, in the fabric of existence, it is the other who completes us."
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